Este estudo, Atravessando a Ponte até à União, é a continuação do estudo Apologia da União entre as Pessoas [1]. Logo, convém ler primeiro este, para compreender algumas das percepções que descreverei a seguir. Para facilitar o estudo que se segue, vamos visualizar a seguinte imagem: uma ponte unindo duas margens.
É impossível vivermos já, a União entre as pessoas. Apesar da União ser a única solução realmente viável e eficaz para os problemas da humanidade, o nível de consciência e de maturidade espiritual em que maior parte vive, torna, para já, impossível a União Nacional e muito menos a União Global.
No entanto, será possível atravessar a Ponte Civilização Atual e chegar à Margem União? Eu acredito que sim e é a isso que estou dedicando a minha vida, o meu pensamento e o meu trabalho: como atravessar a Ponte Civilização Atual e chegar à Margem União? O que podemos fazer agora, dentro da realidade atual, que possa nos conduzir a uma sociedade mais justa, mais pacífica, mais sábia e mais amorosa?
Antes de estudarmos o como, precisamos estudar as próprias metodologias de estudo da União. Se na Apologia da União entre as Pessoas [1], mostrei porque defendo - sem dogmatismos e sem utopias - a União como sendo a única solução viável e eficaz para a resolução dos problemas das Nações e da humanidade, aqui, em Atravessando a Ponte até à União, apresento possibilidades de como tal estudo deve acontecer.
É de extrema importância identificar o ponto do trajeto que está sendo estudado e debatido em cada momento. Existe uma diferença enorme entre onde estamos e onde queremos chegar. Quando estudamos a União, é extremamente importante definir, identificar e distinguir que ponto está sendo debatido no momento: a Margem Barbárie, a Ponte Civilização Atual, ou a Margem União. Porque as condições são diferentes em cada parte do trajeto. Não reconhecer qual parte do trajeto está sendo estudada em cada momento do estudo pode causar acaloradas discussões que dificilmente conduzirão ao entendimento entre as partes envolvidas no debate. Deve-se também tomar muita atenção quando encontramos duas partes do trajeto dentro de uma mesma análise – o que acontece imensas vezes durante o estudo – porque, quando encontramos duas partes do trajeto dentro de uma mesma análise, é aqui que é muito importante saber definir, identificar e distinguir as diferenças entre cada uma das partes do trajeto.
Por exemplo, imaginemos uma comunidade onde quase todas as propriedades privadas possuem poços com água boa para beber. Imaginemos que nessa comunidade existem algumas famílias, cujas propriedades privadas não possuem poço, logo, não têm acesso a água boa para beber. A solução para que estas famílias tenham acesso à água irá depender do estudo de imensos fatores que deverão ser considerados: distância, transporte da água, quantidade de água necessária, etc. Se colocarmos este caso na Margem União, a busca de soluções será orientada pela Inteligência Prática, pela Sabedoria Amorosa e pela Consciência em União. Mas, se colocarmos este caso na Ponte Civilização Atual, a travessia ainda está sendo feita, ou seja, existe grande probabilidade dos Corações e das Consciências das pessoas envolvidas não estarem em União, logo, a busca de soluções possui grande probabilidade de estar sendo orientada pelo lucro, pela busca de poder, pela troca de favores e pelo tráfico de influências.
Por agora, não importa muito quais seriam as soluções para este caso. O que é imprescindível compreender é que, na Ponte Civilização Atual, a travessia ainda está sendo feita. Nesta fase – que é o presente, é o dia de hoje – a Semente de União ainda não foi semeada, ou ainda não germinou, em maior parte dos Corações e das Consciências de maior parte das pessoas. Na travessia da Ponte Civilização Atual ainda estamos buscando meios criativos de semear e despertar a União na Consciência e no Coração das pessoas. Logo, os problemas que a humanidade está encontrando na travessia da Ponte Civilização Atual, ainda estão sendo resolvidos com base em competição e acumulação, gerando imensos sofrimento para imensas pessoas pelas mais diversas razões.
Por outro lado, na Margem União, o sentimento de União já existe em maior parte, ou em todas as pessoas. Apesar da propriedade privada ser completamente respeitada na Margem União, o sentimento de União não deixará que ninguém passe dificuldades. Na Margem União, já estamos buscando soluções com o sentimento de União predominando em todas as Consciências e todos os Corações. Mais uma vez, não confundir a União com comunismo (como tão bem foi explicado na Apologia da União entre as Pessoas): no comunismo não existe propriedade privada.
Ou seja, é indispensável ao Estudo da União distinguir bem entre as predisposições mentais, psíquicas e emocionais encontradas na Ponte Civilização Atual e as encontradas na Margem União. Considerando isto, estamos prontos para dividir este estudo em duas partes:
:: Semear a União na travessia da Ponte Civilização Atual
:: Viver na Margem União
Voltando a considerar que é impossível viver a União agora, em cima da Ponte Civilização Atual, a minha experiência tem me revelado que é muito mais fácil, viável e eficaz, semear a União em indivíduos específicos - que já estejam prontos para receber, sentir, compreender e conscientizar a ideia e o sentimento da União. Estes indivíduos são aqueles que já compreenderam, ou que já estão prontos para compreender, que as polarizações ideológicas – a nível político, religioso, científico e cultural - são as principais causadoras de divisão entre os povos, as principais geradoras de conflitos, de confrontos e de guerras. Estes indivíduos que já estão prontos para receber a Semente da União, são aqueles que já estão prontos para transcender o apego, a apologia e a auto-identificação com ideologias polarizantes geradoras de tribalismos opinitivos. Estes indivíduos são aqueles que já tiraram a sua atenção dos problemas que dividem a Humanidade e já estão prontos para focar a sua atenção nas soluções que unem a Humanidade. Em cima da Ponte Civilização Atual, é urgente multiplicar a quantidade de indivíduos despertos para a União. Focar a semeadura nos indivíduos que já estão prontos para receber, sentir, compreender e conscientizar a ideia e o sentimento da União é garantir o sucesso da multiplicação destes indivíduos.
Simultaneamente, o mais viável é semear a União em áreas geográficas precisas, onde possam ser desenvolvidas ações que despertem e fortaleçam o sentimento de União entre as pessoas e desenvolvidos projetos que proporcionem mais qualidade de vida e mais independência em relação ao controle do Estado e das Corporações.
Presentemente, em cima da Ponte Civilização Atual, pequenas comunidades são as áreas geográficas alvo mais viáveis. Evidentemente que o sucesso deste empreendimento dependerá, em última instância, das próprias comunidades, logo, de cada um dos indivíduos que as constituem. Por isso, inicialmente, é tão importante saber identificar, em tais comunidades, quem são os indivíduos que estão mais preparados para receber a Semente da União. Estes, como membros da comunidade, serão essenciais para que a Semente da União possa ser depositada no Coração e na Consciência da comunidade, com maiores probabilidades de sucesso.
Para os mais estudiosos, facilmente identificam nesta estratégia um paralelo com as estratégias usadas por ideologias políticas e religiosas – as quais, começam por identificar os indivíduos mais propensos a receber tais ideologias, para depois os usar como ferramentas de propaganda. A enormíssima diferença entre as estratégias de tais ideologias e a Semente da União é que esta surge para unir as pessoas e não para dividi-las; surge para ensiná-las a pensar e não para as manipular intelectualmente; surge respeitando a liberdade de expressão, a liberdade de pensamento, a liberdade de crença e a liberdade de escolha das pessoas e não condicionando-as de alguma forma às fronteiras de tais ideologias; a Semente da União surge respeitando a cultura e as tradições de cada povo e não impondo culturas associadas a tais ideologias.
Uma das ações mais eficazes para despertar e fortalecer o sentimento de União em comunidades é a Contação de Histórias. Convidam-se algumas das pessoas mais velhas da comunidade para, em um dia específico, se sentarem e contarem para toda a comunidade, histórias de como era a vida naquele lugar quando elas eram crianças e jovens. A experiência tem-me revelado que todas as faixas etárias se sentem muito motivadas, envolvidas e auto-identificadas com as histórias trazidas pelos mais velhos. Imensas perguntas chovem, desde como era namorar naquele tempo, passando pelas brincadeiras que tinham, até ao tipo de comida. Surgem sempre muitas risadas em tais momentos, muita boa disposição, assim como momentos sérios de reflexão quando são recordadas situações, ou períodos, mais delicados e de sofrimento. A recuperação da memória comunitária revela a história comum entre todos os membros da comunidade, despertando e fortalecendo imenso, os laços de União entre as pessoas. Despertados e fortalecidos os laços da União comunitária, a comunidade está pronta para avançar com o estudo de ideias e a prática de projetos que melhoram a qualidade de vida de todos, em imensos níveis – tais como saúde física e psicológica, economia individual, familiar e comunitária, educação, cultura e tradição.
Quanto mais comunidades existirem conquistando a independência do controle do Estado e das Corporações como resultado da União entre as pessoas, mais estas comunidades servirão como exemplo de que, sim, é possível as pessoas se unirem, melhorarem a qualidade de vida e viverem independentes de tal controle do Estado e das Corporações. Havendo comunidades dando o exemplo, a multiplicação da quantidade de áreas geográficas conquistando a independência do controle do Estado e das Corporações começará, assim, a multiplicar-se.
Mas não sejamos ingênuos: ainda estamos atravessando a Ponte Civilização Atual: apesar disto ter o potencial de ser um processo bastante viável, estejamos prontos para receber muita resistência por parte do Estado e das Corporações que controlam e dominam diversas áreas da vida das pessoas e das comunidades. O Estado e as Corporações não vão largar, facilmente, a sua posição de controle. Aqui entra a questão da Desobediência Civil Pacífica: Como responder à Opressão do Estado? - que será o tema do trabalho contínuo a este.
O caminho que nos conduzirá até uma Nação, ou civilização, em União, apesar de possível, é trabalhoso, não linear e sujeito a imensas resistências por parte das existentes forças de controle e opressão. Apesar da União entre as pessoas ser possível, o que este presente trabalho – Atravessando a Ponte até à União - está trazendo, é a chamada de atenção de quão indispensável é, no Estudo da União, saber identificar a altura do trajeto que está sendo estudada: a Ponte Civilização Atual, ou a Margem União.
Definitivamente, é um caminho nada fácil.
Genial o modo como você esquadrinhou esse processo de caminhada na ponte que liga a barbárie a união
ResponderExcluirNo futuro isso será estudado nas aulas de história, sobre os processos embrionários de semeadura da união
Grato pelas palavras positivas, Cristiano! Este tipo de assunto ainda não interessa muito ser estudado no sistema de ensino oficial. Temos de ser nós mesmos a estudar e divulgar os estudos.
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