... e o desespero em procurar desmentir as negociações para a venda, ou
alocação, dos recursos hídricos brasileiros para corporações estrangeiras.
Em Janeiro de 2018, a Folha de São Paulo noticiou o jantar a portas
fechadas, no Forum Econômico Mundial, entre o presidente brasileiro, Michele
Temer e o presidente da Nestlé, Paul Bulcke e alguns outros poucos convidados,
tais como a colunista da Folha de São Paulo, Maria Cristina Frias, o presidente
do Itaú, Candido Bracher, o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, a
diretora da Universidade de Oxford, Ngaire Woods e o presidente-executivo da
Cinépolis, Alejandro Ramírez. O encontro foi mediado pela diretora de
estratégia regional do Fórum para a América Latina, Marisol Argueta de
Barillas.
Segundo a Folha (a qual, como mencionado acima, tinha uma jornalista
participando do jantar), no encontro foram debatidos os seguintes assuntos:
:: as eleições no Brasil no contexto das mudanças políticas e
econômicas na região
:: a imagem do Brasil entre os líderes globais e regionais
A Folha explica ainda que este jantar foi uma antecipação ao encontro
promovido pelo Fórum Econômico Mundial nos próximos dias 13, 14 e 15 de Março,
em São Paulo, sob o tema “América Latina no momento da virada: dando forma à
Nova Narrativa” (o que será que significa esta Nova Narratina?)
Lembremos que pouco depois do evento de 13-15 de Março, acontecerá o
Fórum Mundial da Água, em Brasília, entre 18 e 23 de Março.
Aparentemente alarmados em relação à notícia que tem vindo a
espalhar-se na internet – de que a Nestlé e a Coca-Cola querem comprar o
Aquífero Guarani - a BBC Brasil, no dia 11 de Março, divulgou uma nota da Secretaria
Especial de Comunicação (Secom), desmentindo o encontro a portas fechadas entre
Temer e o presidente da Nestlé:
11.03.2018
Questionada pela BBC Brasil, a Secretaria Especial de Comunicação
(Secom), ligada à Secretaria Geral da Presidência da República, afirma que, ao
contrário do que dizem os textos nas redes sociais, não houve reunião entre
Temer e o executivo belga Paul Bulcke, atual presidente da Nestlé, durante o
Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, no final do mês de janeiro.
"Houve um jantar promovido pelo Fórum Econômico Mundial em que os
dois estavam presentes", diz a nota.
Ainda de acordo com a Secom, "não há no Governo qualquer discussão
em torno desse assunto (a possível privatização do Aquífero Guarani)". A
assessoria de imprensa da Casa Civil da Presidência da República reforça a
negativa: "Não há nada a respeito disso em análise pela Casa Civil". De
qualquer forma, não seria fácil levar a ideia adiante, segundo pesquisadores.
"Não existe qualquer possibilidade de privatização dos mananciais
subterrâneos ou dos recursos hídricos brasileiros se for seguida a legislação
vigente", diz o professor e pesquisador Rodrigo Lilla Manzione, da
Faculdade de Ciências e Engenharia da Universidade Estadual Paulista (Unesp). "Segundo
a Constituição Federal e a Lei 9.433/97 (Lei das águas), as águas são de domínio
público, o que não permite qualquer direito de propriedade sobre elas." Para
mudar essa situação e tornar os aquíferos passíveis de privatização seriam
necessárias mudanças na Constituição, por meio de uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC).
Mas as propostas de mudanças na Constituição já existem: o Aquífero Guarani já pode ser “alocado” pela Nestlé se esta PLS for aprovada:
Ementa:
Altera a Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, para introduzir os
mercados de água como instrumento destinado a promover alocação mais eficiente
dos recursos hídricos.
Explicação da Ementa:
Altera a Política Nacional de Recursos Hídricos para priorizar o uso
múltiplo e a alocação mais eficiente dos recursos hídricos, bem como para criar
os mercados de água.
A Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997 diz:
“Art. 1º A Política Nacional de Recursos Hídricos baseia-se nos
seguintes fundamentos:
I - a água é um bem de domínio público;”
Evidentemente que não existem documentos oficiais em relação à venda do
Aquífero Guarani a corporações internacionais, mas a sequência de encontros em
datas tão próximas entre as altas instâncias do Governo brasileiro e de bancos
brasileiros, com corporações como a Nestlé - diretamente ligada à privatização
internacional de recursos hídricos em diversos países do mundo - e fóruns que
tratam de assuntos econômicos, políticos e da própria água, estão dando imensas
razões para que cada vez mais pessoas desconfiem que é isso mesmo que está
acontecendo. Mais desconfiadas as pessoas ficam quando é explicado pela BBC
que, para tal venda acontecer, precisam acontecer mudanças na Constituição
brasileira... e as pessoas descobrem que já existem propostas no Senado para
que tais mudanças constitucionais aconteçam.
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